quinta-feira, 25 de novembro de 2010

{baby steps}




não existe um caminho para a felicidade.
a felicidade é o caminho...

mahatma gandhi.

sábado, 20 de novembro de 2010

{skizofrénia}

no quarto, o armário estava dividido em dois. de um lado, roupa formal: fatos de cores neutras, camisas, sapatos de salto alto; do outro lado, cor... muita cor: lenços, vestidos fluidos, calças largas, saias compridas e rodadas, tops de atar ao pescoço e chinelos.

acordar uma ou outra, para mim, era algo tão natural como beber água ou comer. era assim, desde muito jovem, sem nunca me questionar porquê... e até a minha família[a mais chegada], os meus amigos ou a minha gata conseguiam distinguir quando acordava uma ou quando acordava outra, só de olharem para mim. e todos reagiam normalmente a esta espécie de alienação mental[totalmente absurda, diga-se...].

não consigo explicar porquê, só sei que durante estes últimos anos, tudo mudou[felizmente, porque acho que não teria muita paciência para tanta insensatez]. talvez a doença, a incapacidade de ser uma ou outra... sim, deve ter sido isso. hoje, não uso fatos nem tão pouco, ando de fita no cabelo. não sou uma nem outra.

contudo, daquela loucura sobreviveu uma miscelânea das duas.
eu.

tento viver um dia de cada vez[passo a passo] sempre com um sorriso[porque o sorriso é essencial - para mim, para ti... para ele]. agradeço, ao deitar, todo o meu dia: as coisas boas e as menos boas[porque acredito que, até das situações menos agradáveis, se pode tirar uma lição e as lições são importantes: ajudam-nos a crescer].

eu sou inteiramente responsável por tudo o que me acontece... seja o bom, seja o menos bom. porque eu faço o meu caminho com as minhas decisões, os meus pensamentos. se estiver sempre a reclamar da vida com pensamentos desagradáveis, acredito que o universo faz-me a vontade. tipo: já que pensas tanto nisso, aqui está mais do mesmo...

por isso, canto. e danço. mesmo na rua... são os meus interruptores secretos. assim que um pensamento menos bom aparece na minha mente, ligo o interruptor e esse pensamento se desvanece com uma nuvem de fumo[há quem diga que foge de medo porque eu canto mesmo mal, hummm. não sei. provavelmente]. também ando sempre com a minha máquina fotográfica na mala. e nada escapa... eu adoro fotografar, mesmo sem sentido.

não obstante, eu ando tão estranha, ultimamente. e nem os meus interruptores secretos parecem funcionar. não sei porquê. ando insatisfeita, triste, desmotivada, distante de mim mesma. por vezes, sinto-me em piloto automático[eu já vi este filme, lá no tempo do armário dividido em dois... e não gostei mesmo nada do desenlace].

é claro que podemos culpar o tempo ou o outono. quem sabe a lua? o meu pai acredita que sim, é a lua. o antónio diz que pode ser... afinal, a lua é um excelente bode expiatório. também pode ser falta de serotonina... pelo menos, é o que o médico me disse: e que tal um anti-depressivo?
[e pronto, já cá faltava o anti-depressivo]

segundo a minha irmã[sim, na minha família, todos dão o seu palpite... por isso, é que lhe chamo família. para o bem e para o mal. sempre juntos], o meu trabalho é a causa porque esse trabalho não é para ti. quase que acreditei... porque eram tantos com a mesma conversa que não tive outra hipótese senão questionar-me se teria feito a melhor escolha. e sim, este é - sem dúvida - o meu trabalho...

então, o que será?

não sei...

[ou talvez saiba... parece que escrever está a ajudar-me a perceber o que vai cá dentro].

sábado, 13 de novembro de 2010

{rewind}


lembro-me de estar muito frio. ia de mãos dadas com a minha mãe e com o meu pai. a rua era tão comprida que não se chamava rua: era uma avenida[sim, a minha mãe já tinha-me explicado isso].

caía uma chuva miudinha que me enevoava os olhos... parecia que estávamos envoltos num nevoeiro que molhava tudo.

onde vamos? já te dissemos que é uma surpresa. pronto, está bem[chatos].

lá ao fundo, no meio daquela espécie de nevoeiro feito de lágrimas fininhas[porque as nuvens estavam tristes... mas, não sei bem porquê... a minha mãe nunca me explicou], uma nuvem de fumo branco. que nuvem é aquela? é o senhor das castanhas. assadas? sim. que bom! adoro castanhas assadas! podemos comprar? quando lá chegarmos. que cheirinho bom... vamos mais depressa!

debaixo de um grande chapéu[igual ao nosso, mas o nosso é para usar na praia... que estranho], estava um senhor a assar castanhas. as mãos estavam tão sujas... porque as folhas de jornal e as castanhas assadas sujam muito. ah! então, está bem.

depois de ter o meu canudinho feito de folha de jornal, cheio de castanhas assadas, bem apertadinho entre minhas mãos, pediram-me para olhar para trás: um prédio gigante com um poster quase tão gigante como o prédio. nesse poster, estavam dois cães e muitos[tantos!] cãezinhos brancos com pintas pretas!

esta é a surpresa...

e é por isso que, sempre que vejo uma nuvem de fumo branca com um cheirinho bom, a sobressair de um nevoeiro, lembro-me daquele dia em que aprendi que uma rua muito grande, não se chama rua, mas avenida. que as nuvens choram quando estão tristes, que os senhores das castanhas têm as mãos muitos sujas porque as folhas de jornal e as castanhas assadas sujam muito. e, principalmente, lembro-me da primeira vez que fui ao cinema... com um canudinho feito de folha de jornal, cheio de castanhas assadas. quentes e boas... quentinhas.

domingo, 7 de novembro de 2010

{nostalxia...}

anoitece... uma rapariga chega no seu carocha a uma falésia, liga o isqueiro do carro à caneca, enquanto prepara o café. depois, sai do carro e olhando o mar, bebe-o ao som dos acordes da música...


i can see clearly now, the rain is gone
i can see all obstacles in my way
gone are the dark clouds that had me blind
it's gonna be a bright (bright), bright (bright), sun shiny day
it's gonna be a bright (bright), bright (bright), sun shiny day

i think i can make it now, the pain is gone
all of the bad feelings have disappeared
here is that rainbow I've been praying for
It's gonna be a bright (bright), bright (bright), sun shiny day

look all around, there's nothing but blue skies
look straight ahead, there's nothing but blue skies

i can see clearly now, the rain is gone
i can see all obstacles in my way
gone are the dark clouds that had me blind
it's gonna be a bright (bright), bright (bright), sun shiny day
it's gonna be a bright (bright), bright (bright), sun shiny day
it's gonna be a bright (bright), bright (bright), sun shiny day
it's gonna be a bright (bright), bright (bright), sun shiny day

johnny nash

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

{viver... de aparências}

conheci a madalena há cerca de dez anos no meu grupo de yôga, onde os seus dotes culinários eram sobejamente conhecidos. fazia de cada prato, um verdadeiro monumento à cozinha vegetariana.

madalena tinha um sonho: ser chef de cozinha. para azar dela, era uma excelente aluna e os pais fizeram de tudo para que ela seguisse enfermagem [tipo "seguir as pegadas dos pais"] porque ser chef não traz prestígio e tu, enquanto viveres nesta casa, fazes o que o pai e a mãe decidirem porque nós é que sabemos o que é melhor para ti [citando os pais da mada, que também conheci e de quem ouvi esta barbaridade].

hoje a madalena é enfermeira. desempregada, frustrada, deprimida. mas enfermeira, como os seus pais tanto quiseram.

no seu último post, madalena critica esta necessidade quase patológica de se ter o tal dr. atrás do nome. segundo ela, se uma pessoa não for licenciada em qualquer coisa, não é ninguém na vida.

Na nossa sociedade, ou se é Doutor ou não se é nada. Limpezas domésticas, pintura ou carpintaria... há cada vez menos pessoas que queiram fazer estes serviços porque são profissões, de alguma forma, mal vistas pela família, amigos, vizinhos... conheço quem tenha seguido uma destas profissões mas nega-o [três vezes, se for necessário].

Então, comadre: o que é o que o seu filho faz, lá pela cidade? Se o dito for Doutor, a comadre enche a boca. Se não for Doutor, enche do mesmo jeito. Uma mentirinha não vai trazer mal ao mundo.


quando li isto, fartei-me de rir porque isto acontece lá naquela terrinha linda que eu adoro e de que tanto falo. é mesmo assim. aliás, no facebook, é descrita como a "terra dos doutores"...

ri-me mas fiquei triste porque a madalena tem toda a razão. e isso só pode ser um péssimo indicativo de que este país perdeu.

o quê? a transparência.

poucos são aquilo que querem ser.
muitos ocultam o que realmente são.

a madalena queria ser chef de cozinha mas a sociedade recusou-lhe o prestígio, tão importante para os seus pais... e como a madalena, há tantos outros.

o meu pai, agora reformado, foi alfaiate e, depois do vinte e cinco de abril até à reforma, cantoneiro de limpeza. posto de lado por uma boa parte da família, era o homem do lixo. há uns tempos atrás, o marido de uma tia minha, polícia de profissão, disse-lhe que ele teria que subir muitos degraus para chegar até ele[infelizmente, eu não estava presente porque eu teria-lhe dito exactamente o que fazer com a farda]. eu aprendi muito com a profissão do meu pai... por vezes, ia com ele para o trabalho e sentia imenso orgulho dele. afinal, o meu pai ajudava a cidade a estar limpa! e os lisboetas eram tão porquinhos... [e ainda são. é só olhar para o chão e para os eco-pontos].

a minha mãe foi costureira, empregada de limpeza e ama. com ela aprendi a cozinhar e a tratar de uma casa. posso dizer que tive a melhor professora porque tudo o que ela faz, sabe fazê-lo muito bem. e filho de peixe...
[presunção e água benta...]

há cerca de vinte anos, eu queria seguir o ensino. mas sempre gostei de pensar a longo prazo e apercebi-me que essa profissão, daí a alguns anos, estaria estagnada. por isso, resolvi frequentar um curso técnico e muitas pestanas queimadas mais tarde, tornei-me técnica de óptica. um bom emprego com um bom cargo numa excelente empresa...

contudo, fiquei doente e tive que abandonar a minha profissão. tal como tive que abandonar a minha casa.

voltar a morar com os meus pais significava lidar com a profissão da minha mãe, dia após dia. ela era cuidadora de crianças. o que eu aprendi nos últimos oito anos... não foi só a mudar fraldas, fazer o biberão ou a interpretar choros. aprendi a amar sem exigir nada em troca. porque lidar com crianças é isso mesmo. um acto de amor.

[há algumas semanas atrás, estive no msm com uma menina que eu ajudei a "criar", juntamente com a minha mãe, claro: estás tão grande...(lágrimas a correr, sorriso tremido) olha, que eu já tenho oito anos!!! sim, minha querida... mas eras tão pequenina quando eu te peguei no colo, pela primeira vez... ]

quando a doença começou a dar tréguas, eu e minha mãe fizemos um género de parceria e passamos a ser colegas de trabalho. todos [família, amigos...] sabiam disso mas, muitas vezes, uma das minhas tias telefonava lá para casa e quase sempre, a meio da conversa, pérola das pérolas: mas tu estás a trabalhar? onde? então, não trabalho com a minha mãe? ah, isso...

ah, isso...

[ ai, madalena, madalena... os teus pais tinham toda a razão, amiga]


quando a minha doença entrou em remissão, decidi que estava na hora de dar a reforma à minha mãe. ela estava muito cansada e já só estava a trabalhar para me ajudar. confesso que me custou imenso despedir-me dos meus traquinas... eles eram tudo, para mim.

vais voltar para a óptica? não. então? não sei...

há muita procura na minha área com excelentes vencimentos. ainda trabalhei numa clínica, por uns tempos. mas, não era nada daquilo que eu queria.

eu queria voltar a fazer aquilo que estivera a fazer durante os últimos oito anos. mas, estudaste tanto...

sim. estudei. queimei pestanas, neurónios e sei lá mais o quê. se estou arrependida? [aqui, ficaria bonito dizer que o saber não ocupa lugar e não sei mais o quê, mas não vou dizer nada disso] estou arrependida, sim. foram anos que desperdicei a fazer algo que não me preenchia, cá dentro. eu tinha uma posição muito boa[social, profissional...], um excelente ordenado... mas era infeliz. tanto que adoeci.

primeiro, um grave esgotamento que deixou sequelas... e a seguir, a espondilite. [sim, eu sei que não é uma doença profissional, mas reumática. sei, ainda, que muitos portadores podem viver uma vida inteira sem que a doença se manifeste. tal como sei que, neste tipo de doenças, há factores que podem ajudar a desencadear a doença... e no meu caso, o responsável foi tudo o que girava à volta da minha profissão].

de que me vale o prestígio... estando doente?

hoje, é com tristeza que vejo a minha mãe "engolir em seco" sempre que diz que não sou mais técnica de não sei quê, porque decidi ser cuidadora [como ela o foi] e que estou a ajudar a crescer um menino[que me faz sorrir, só de me lembrar do seu sorriso...].

e... cereja no bolo: muitos já me disseram que fui de
"cavalo para burro".
...

conheço muitas pessoas que frequentam o ensino superior porque estão atrás de um sonho, da sua vocação. a essas pessoas, eu desejo toda a sorte do mundo. hoje, mais do que nunca acredito que devemos seguir o nosso coração. pode parecer romantismo, mas é a maior verdade que algum dia possamos conhecer.

também conheço pessoas como a madalena. a esses, digo-lhes que ainda estão a tempo. nem só de pão vive o homem e não é o prestígio que vos vai alimentar a alma. e, acreditem, a certa altura, irão sentir o peso da escolha.

quanto a mim... se eu poderia voltar a trabalhar na minha antiga área, se eu poderia fazer menos quinze horas semanais, trabalhar bem menos e ganhar três vezes mais do aquilo que ganho?

poder, podia...

mas, não seria a mesma coisa (^_~)


para a fábrica de letras, sob o tema: transparente
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