quinta-feira, 31 de março de 2011

{narradores de memória}

contam que era uma velhinha[muito velhinha, mesmo] e que tinha um dedo doente. uma unha encravada que, segundo dizem, doía muito e, por mais que tratassem dessa unha, crescia sempre encravada.

contam, também, que a bisneta[menina de três anos, saia rodada e totós enrolados em fitas cor-de-rosa] estava sempre à espreita e, quando via a velhinha[muito velhinha, mesmo] sozinha, corria e pisava-a.

de-va-ga-ri-nho-com-mui-ta-for-ça
[ao estilo, psicopata sádica]

para quem não acredita na lei do karma, eu sou um bom exemplo do "cá se fazem, cá se pagam". ah, pois! é que no verão passado, a unha do dedo grande do meu pé[pequenino, macio... de cinderela, onde só serve sapato feito por medida], começou a ficar escura.

"vai ficar negra", disse-me um amigo meu, médico. "foi trauma".

qual trauma, qual quê!!! é a treta do karma. e dói. se dói. mesmo. e pior: corta-se e ao crescer, encrava. ah, pois... encrava e nem as meias suporto.

toma lá, embrulha!

que é para aprenderes a não pisar o dedo doente[de-uma-for-ma-tão-cru-el] da velhinha[muito velhinha, mesmo].

bisa, querida... onde quer que estejas... a justiça foi feita.

porque a unha encrava dói que se farta. ah, dói... dói...
[bem feito]

segunda-feira, 28 de março de 2011

{multimedia message service}



i'm singing in the rain, gene kelly


[desde pequenina, sempre que chove, começo a sibilar esta canção...]

i´m happy again

sexta-feira, 25 de março de 2011

{adietar*}


eu já fui gordinha. muito gordinha, mesmo. e nunca me aborreci por ser assim. desde que não interferisse com a minha saúde, não me importava de ser redondinha[pequenina e redondinha, como uma bolinha... chamavam-me, ternamente, "michelin"].

nunca fiz dietas para emagrecer. por vezes, comia menos, por um ou dois dias. mas só. sempre gostei de comer e isso de almejar por uma figura igual à das modelos, não era para mim. aliás, sempre considerei aquela magreza, doentia. é isso mesmo. doentia.

quando descobri que um tratamento possível para a minha doença seria uma dieta, não hesitei. vozes surgiram, não vais conseguir. porém, a teimosia e a obsessão pelo perfeccionismo[é no que dá ter sol em touro, lua em escorpião e ascendente em virgem: uma mistura explosiva de mau feito], estiveram a meu favor.

segui, religiosamente, este regime que cortava com quase todos os alimentos, excepto proteína animal e alguns vegetais. lacticínios e polissacarídeos riscados do menu. ou seja, praticamente, tudo.

a tal magreza doentia que me afligia... no meu espelho. contudo, sem dores[decididamente, o mais esperado... o mais importante].

hoje, com a doença em remissão, já reintroduzi todos os alimentos e já como de tudo[weeeeee!]. foram três anos a proteína animal, alface e água. agora, já me consigo olhar no espelho. já reflecte, finalmente, as curvas... estou mais gordinha[não tão gordinha, mas enfim...].

actualmente, a dieta, regime ou o que quer que lhe possamos[ou queiramos] chamar, é outra. a finalidade não é perder ou ganhar peso. tão pouco descer os níveis de colesterol ou da glicémia. e, muito menos, combater uma bactéria irritante como a klebsiella pneumoniae. a finalidade é ser feliz.

vozes, mais uma vez, surgem:

"ser feliz? com os tempos que correm?"[a padeira];
"isso de ser feliz é muito complicado"[a minha vizinha];
"e o que é a felicidade?"[a avó do meu bebé];
"desculpe lá, mas que ideia mais parva"[colega de autocarro],
"e como é que é isso?"[a minha querida amiga paula]

ou ainda,

"dieta para ser feliz? só te dá para a estupidez! quando é que cresces? és tão infantil! nem pareces ter a idade que tens. vais fazer 38, não vais? já estava na hora de mudares"[a minha prima].


[sim...
eu estou rodeada de pessoas que
acreditam que a felicidade,
ou não existe,
ou é praticamente inatingível
,
ou é sonho de menina...
vá-se lá entender]

vamos lá por etapas:

"ser feliz? com os tempos que correm?"

bem... "os tempos que correm"... que eu me lembre, os tais tempos têm sido os mesmos desde que eu nasci. já no tempo dos meus pais era a mesma coisa. e no tempo dos meus avós, também. no entanto, no meio destes "tempos que correm" sempre existiram pessoas que conseguiram. ser felizes. tal qual, o seu significado. se eles conseguiram... porque não eu[tu]?.


"isso de ser feliz é muito complicado"

porquê? porque é que ser feliz tem, necessariamente, que ser complicado? eu não acredito que assim seja. nada é complicado. a vida não é complicada: nós é que temos essa tendência quase perniciosa de complicar tudo. somos eternas vítimas da pior sabotagem de todas... a auto-sabotagem.


"e o que é a felicidade?"
felicidade
(latim felicitas, -atis)
s. f.
1. circunstâncias que causam ventura.
2. estado da pessoa feliz.
3. sorte.
4. ventura.
5. bom êxito.

in priberam

ficou explícito ou terei de desenvolver?


"desculpe lá, mas que ideia mais parva"

parva? "dieta" para alcançar a felicidade... sinceramente, não consigo perceber onde está a parvoíce. a felicidade está em tudo o que vemos, vivemos e sentimos. o grande problema é que não estamos habituados[não fomos educados] a reparar nisso. existem tantos guias, tantos exemplos, tanta informação sobre o tema... só falta pôr todo este conhecimento[que temos mas não valorizamos] em prática. e, por isso, a "dieta".


"dieta para ser feliz? só te dá para a estupidez! quando é que cresces? és tão infantil! nem pareces ter a idade que tens. vais fazer 38, não vais? já estava na hora de mudares"

antes de mais, sim. o meu aniversário está aí e eu, que não sou de falsas modéstias e adoro festejar o dia em que nasci, gosto ainda mais que todos se lembrem. faz muito bem ao ego[e se faz bem ao ego... contribui para a "dieta"]. quanto à "estupidez"... pena que haja pessoas que pensem desta forma. já sobre a "infantilidade"... sempre fui assim. acredito que nada haja a fazer para alterar esse estado[e mesmo que houvesse, eu gosto desta minha maneira de ser, obrigada].

bem... a "conversa" já vai longa.
fica o "como" para uma outra altura.

agora, vou até à cozinha ser feliz. tenho que lavar a loiça. e lavar loiça deixa-me feliz porque, como a sofia escreve no seu blog, "celebro a vida no simples gesto de a lavar".

[porque ter loiça para lavar significa que houve alimento. porque há trabalho. porque tenho saúde. porque não estou sozinha. porque...]

segunda-feira, 21 de março de 2011

{spring sends a smile}








welcome spring...

domingo, 20 de março de 2011

{ipod}

fotografia gentilmente cedida pelo meu querido amigo e grande fotógrafo
nelson teixeira



clair de lune, de claude debussy

domingo, 13 de março de 2011

{looking down the road}


algo de muito podre[mais do que aquilo que eu pensava] se passa por terras de camões. ontem, a tvi falava em setenta mil em lisboa, quando o verdadeiro número ronda os duzentos[trezentos, total nacional]; a sic deu pouca, ou quase nenhuma, relevância à manifestação: limitou-se aos números de faro, coimbra e viseu[números, muito por baixo, certamente]. eu, que estava à espera de censura na rtp, depressa me apercebi que era a única que estava na rua, a fazer o serviço que lhe competia.

e os comentadores? esta espécie de povo triste que se sente mais intelectual que os demais, antes da manifestação falava que "dar cliques é muito fácil, quero ver no dia"; a manifestação "não terá grande sucesso" e outras farpas. depois do evidente, falam em "demagogia", em "manifestação sem qualquer consequência", afirmam que "mais parecia uma grande festa, estavam todos felizes" e que a maioria não eram mais que "grupos de jovens vindos de uma directa do bairro alto".

[ao ouvir tão distintas personalidades, pergunto-me se prefeririam vitrinas de lojas partidas, carros virados, caixotes de lixo a arder ou as pedras da famosa calçada portuguesa arremessadas às forças policias. se assim fosse, a geração continuaria a ser apelidada da rasca, acredito. mas como foi uma manifestação pacífica, o que
"eles querem é festa"]

o que eu não entendo, de forma alguma, é o porquê. porque é que estas pessoas estão tão incomodadas. os mesmo que defendem que o país está muito perto de cair do precipício com uma população inerte e adormecida, irritam-se[sim, irritam-se!] com a mais que necessária mobilização dos portugueses.

quem são estas pessoas, afinal?

[sinceramente, penso que não estamos só precisar de uma limpeza em termos de governação. há que limpar, também, a comunicação social]

sábado, 12 de março de 2011

{caleidoscópio}

lisboa à rasca - rossio a 12 de março às 16h30.

"vem por aqui" — dizem-me alguns com os olhos doces
estendendo-me os braços, e seguros
de que seria bom que eu os ouvisse
quando me dizem: "vem por aqui!"
eu olho-os com olhos lassos,
(há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
e cruzo os braços,
e nunca vou por ali...
a minha glória é esta:
criar desumanidades!
não acompanhar ninguém.
— que eu vivo com o mesmo sem-vontade
com que rasguei o ventre à minha mãe
não, não vou por aí! Só vou por onde
me levam meus próprios passos...
se ao que busco saber nenhum de vós responde
por que me repetis: "vem por aqui!"?

prefiro escorregar nos becos lamacentos,
redemoinhar aos ventos,
como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
a ir por aí...
se vim ao mundo, foi
só para desflorar florestas virgens,
e desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
o mais que faço não vale nada.

como, pois, sereis vós
que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
para eu derrubar os meus obstáculos?...
corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
e vós amais o que é fácil!
eu amo o longe e a miragem,
amo os abismos, as torrentes, os desertos...

ide! tendes estradas,
tendes jardins, tendes canteiros,
tendes pátria, tendes tectos,
e tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
eu tenho a minha Loucura !
levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
e sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...
deus e o diabo é que guiam, mais ninguém!
todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
mas eu, que nunca principio nem acabo,
nasci do amor que há entre deus e o diabo.

ah, que ninguém me dê piedosas intenções,
ninguém me peça definições!
ninguém me diga: "vem por aqui"!
a minha vida é um vendaval que se soltou,

é uma onda que se alevantou,
é um átomo a mais que se animou...
não sei por onde vou,
não sei para onde vou
sei que não vou por aí!

josé régio, in cântico negro

acordámos tarde, mas acordámos...
hoje, sim.
voltei a ter orgulho em ser[sentir-me] portuguesa.
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