sexta-feira, 5 de novembro de 2010

{viver... de aparências}

conheci a madalena há cerca de dez anos no meu grupo de yôga, onde os seus dotes culinários eram sobejamente conhecidos. fazia de cada prato, um verdadeiro monumento à cozinha vegetariana.

madalena tinha um sonho: ser chef de cozinha. para azar dela, era uma excelente aluna e os pais fizeram de tudo para que ela seguisse enfermagem [tipo "seguir as pegadas dos pais"] porque ser chef não traz prestígio e tu, enquanto viveres nesta casa, fazes o que o pai e a mãe decidirem porque nós é que sabemos o que é melhor para ti [citando os pais da mada, que também conheci e de quem ouvi esta barbaridade].

hoje a madalena é enfermeira. desempregada, frustrada, deprimida. mas enfermeira, como os seus pais tanto quiseram.

no seu último post, madalena critica esta necessidade quase patológica de se ter o tal dr. atrás do nome. segundo ela, se uma pessoa não for licenciada em qualquer coisa, não é ninguém na vida.

Na nossa sociedade, ou se é Doutor ou não se é nada. Limpezas domésticas, pintura ou carpintaria... há cada vez menos pessoas que queiram fazer estes serviços porque são profissões, de alguma forma, mal vistas pela família, amigos, vizinhos... conheço quem tenha seguido uma destas profissões mas nega-o [três vezes, se for necessário].

Então, comadre: o que é o que o seu filho faz, lá pela cidade? Se o dito for Doutor, a comadre enche a boca. Se não for Doutor, enche do mesmo jeito. Uma mentirinha não vai trazer mal ao mundo.


quando li isto, fartei-me de rir porque isto acontece lá naquela terrinha linda que eu adoro e de que tanto falo. é mesmo assim. aliás, no facebook, é descrita como a "terra dos doutores"...

ri-me mas fiquei triste porque a madalena tem toda a razão. e isso só pode ser um péssimo indicativo de que este país perdeu.

o quê? a transparência.

poucos são aquilo que querem ser.
muitos ocultam o que realmente são.

a madalena queria ser chef de cozinha mas a sociedade recusou-lhe o prestígio, tão importante para os seus pais... e como a madalena, há tantos outros.

o meu pai, agora reformado, foi alfaiate e, depois do vinte e cinco de abril até à reforma, cantoneiro de limpeza. posto de lado por uma boa parte da família, era o homem do lixo. há uns tempos atrás, o marido de uma tia minha, polícia de profissão, disse-lhe que ele teria que subir muitos degraus para chegar até ele[infelizmente, eu não estava presente porque eu teria-lhe dito exactamente o que fazer com a farda]. eu aprendi muito com a profissão do meu pai... por vezes, ia com ele para o trabalho e sentia imenso orgulho dele. afinal, o meu pai ajudava a cidade a estar limpa! e os lisboetas eram tão porquinhos... [e ainda são. é só olhar para o chão e para os eco-pontos].

a minha mãe foi costureira, empregada de limpeza e ama. com ela aprendi a cozinhar e a tratar de uma casa. posso dizer que tive a melhor professora porque tudo o que ela faz, sabe fazê-lo muito bem. e filho de peixe...
[presunção e água benta...]

há cerca de vinte anos, eu queria seguir o ensino. mas sempre gostei de pensar a longo prazo e apercebi-me que essa profissão, daí a alguns anos, estaria estagnada. por isso, resolvi frequentar um curso técnico e muitas pestanas queimadas mais tarde, tornei-me técnica de óptica. um bom emprego com um bom cargo numa excelente empresa...

contudo, fiquei doente e tive que abandonar a minha profissão. tal como tive que abandonar a minha casa.

voltar a morar com os meus pais significava lidar com a profissão da minha mãe, dia após dia. ela era cuidadora de crianças. o que eu aprendi nos últimos oito anos... não foi só a mudar fraldas, fazer o biberão ou a interpretar choros. aprendi a amar sem exigir nada em troca. porque lidar com crianças é isso mesmo. um acto de amor.

[há algumas semanas atrás, estive no msm com uma menina que eu ajudei a "criar", juntamente com a minha mãe, claro: estás tão grande...(lágrimas a correr, sorriso tremido) olha, que eu já tenho oito anos!!! sim, minha querida... mas eras tão pequenina quando eu te peguei no colo, pela primeira vez... ]

quando a doença começou a dar tréguas, eu e minha mãe fizemos um género de parceria e passamos a ser colegas de trabalho. todos [família, amigos...] sabiam disso mas, muitas vezes, uma das minhas tias telefonava lá para casa e quase sempre, a meio da conversa, pérola das pérolas: mas tu estás a trabalhar? onde? então, não trabalho com a minha mãe? ah, isso...

ah, isso...

[ ai, madalena, madalena... os teus pais tinham toda a razão, amiga]


quando a minha doença entrou em remissão, decidi que estava na hora de dar a reforma à minha mãe. ela estava muito cansada e já só estava a trabalhar para me ajudar. confesso que me custou imenso despedir-me dos meus traquinas... eles eram tudo, para mim.

vais voltar para a óptica? não. então? não sei...

há muita procura na minha área com excelentes vencimentos. ainda trabalhei numa clínica, por uns tempos. mas, não era nada daquilo que eu queria.

eu queria voltar a fazer aquilo que estivera a fazer durante os últimos oito anos. mas, estudaste tanto...

sim. estudei. queimei pestanas, neurónios e sei lá mais o quê. se estou arrependida? [aqui, ficaria bonito dizer que o saber não ocupa lugar e não sei mais o quê, mas não vou dizer nada disso] estou arrependida, sim. foram anos que desperdicei a fazer algo que não me preenchia, cá dentro. eu tinha uma posição muito boa[social, profissional...], um excelente ordenado... mas era infeliz. tanto que adoeci.

primeiro, um grave esgotamento que deixou sequelas... e a seguir, a espondilite. [sim, eu sei que não é uma doença profissional, mas reumática. sei, ainda, que muitos portadores podem viver uma vida inteira sem que a doença se manifeste. tal como sei que, neste tipo de doenças, há factores que podem ajudar a desencadear a doença... e no meu caso, o responsável foi tudo o que girava à volta da minha profissão].

de que me vale o prestígio... estando doente?

hoje, é com tristeza que vejo a minha mãe "engolir em seco" sempre que diz que não sou mais técnica de não sei quê, porque decidi ser cuidadora [como ela o foi] e que estou a ajudar a crescer um menino[que me faz sorrir, só de me lembrar do seu sorriso...].

e... cereja no bolo: muitos já me disseram que fui de
"cavalo para burro".
...

conheço muitas pessoas que frequentam o ensino superior porque estão atrás de um sonho, da sua vocação. a essas pessoas, eu desejo toda a sorte do mundo. hoje, mais do que nunca acredito que devemos seguir o nosso coração. pode parecer romantismo, mas é a maior verdade que algum dia possamos conhecer.

também conheço pessoas como a madalena. a esses, digo-lhes que ainda estão a tempo. nem só de pão vive o homem e não é o prestígio que vos vai alimentar a alma. e, acreditem, a certa altura, irão sentir o peso da escolha.

quanto a mim... se eu poderia voltar a trabalhar na minha antiga área, se eu poderia fazer menos quinze horas semanais, trabalhar bem menos e ganhar três vezes mais do aquilo que ganho?

poder, podia...

mas, não seria a mesma coisa (^_~)


para a fábrica de letras, sob o tema: transparente

32 comentários:

Madalena disse...

Está mesmo muito bom. Cirúrgico, diria. Obrigada pela força amiga, pela tua força. Recebi a mensagem e começo a pensar sinceramente em seguir os teus conselhos. Tenho que me decidir depressa porque o convite expira no fim deste ano.

Um beijinho muito grande!

cc disse...

O que dizer depois de tudo o que li? Fiquei sem palavras principalmente porque nunca passei por nada disso. Eu sempre disse que iria seguir geriatria e todos me apoiaram. Concordo com o que dizes sobre ser cuidadora. Eu também sou e realmente é um acto de amor. Não cuido de crianças mas o que são os meus velhinhos senão crianças grandes? Adorei o teu post. Um beijinho grande e parabéns pela coragem!

Johnny disse...

Também há pessoas que, simplesmente, não sabem!

Rogério G.V. Pereira disse...

Minha querida, este seu texto resume lindamente o que eu vou escrever em cerca de 50 posts que tenho planeados e que comecei hoje a editar. Chama-se "caminhos do meu navegar", vai adorar tanto quanto eu adorei de ler o que acaba de escrever...

Beijinho

Acessando Terapia disse...

Ai, como concordo contigo! As pessoas precisam de títulos para sustentarem o ereto das costas... Parecem pombos em desvario, ostentando nomes e posição social.
Não penso assim, pra mim o que vale é a essência da alma e que traga sinceridade e amor no peito... O resto? Crescimento e escolha de cada um, respeito tudo que traga felicidade!

Bom findi, minha amiga!
Beijo

Sandra disse...

Nossas transparências nos fortalecem.
Temos que as manter com muito carinho e respeito. Ser transparente é deixar aberto a alma e o coração.
Estamos ai tbém.
http://sandrarandrade7.blogspot.com/2010/11/trnsparencia-dos-sentimentos.html
Carinhosamente,
Sandra

El Matador disse...

Muito bom texto. Analisa na perfeição um dos podres deste país.
Hoje somos todos doutores e qualquer dia o lixo chega até ao tecto. Mesmo assim no meio de tanto doutor não se percebe como é que deixaram o país ir ao fundo; teoria têm com que baste mas não sabem é fazer nada.

mafaldinha disse...

É isso mesmo, amiga! E como tu tão bem sabes, na nossa área* o que há mais são doutores. Eles são aos molhos! Eu que sou licenciada e não aceito que me tratem por dra. porque nunca fiz nenhum doutoramento (esses,sim, são doutores), tenho que tratar por dr. aqueles que tiram um curso da treta aos fds durante um ano. E técnicos? são mais os cangalheiros que aprendem em dois dias o que tu tiveste que estudar em três anos e meio! País de tretas, drs. da treta.

TRETA!

Ritinha disse...

Eu estou a frequentar a universidade como tu sabes e estou a adorar. Estou no curso que sempre quis mas aqui vê-se muita gente frustrada. Nem todos sabem muito bem o que realmente querem fazer mas acreditam que têm que frequentar o ensino superior para conseguirem "vencer". É pena que pensem assim.

xoxo

Unknown disse...

No meu tempo e já lá vai muito tempo, as "profissões do futuro" eram aprendidas nas oficinas. Não sei até que ponto essas profissões não continuarão a ser chamadas "profissões do futuro" já que começa a existir falta de mão-obra-qualificada em muitos sectores.

Lisa disse...

Acho que se as pessoas começassem a pensar, coisa que muitos portugueses não fazem, isto dava uma grande volta. Uma empregada doméstica é tão importante quanto um professor e um médico é tão importante como um cantoneiro de limpeza, e por aí. Todos precisamos de todos. Sem uns, os outros não poderiam exercer. É assim que eu vejo e acho que estou certa.

mafaldinha disse...

Já perdeste um seguidor! Aposto que era um Dr!

Pedro disse...

Como o mundo é pequeno! Cliché já sei mas também fui técnico de óptica. Tiraste o curso no Inete? Eu também mudei de caminho. Eu entendo muito bem o que não escreveste mas deixaste bem explicito nas entrelinhas.O mundo da óptica é um mundo à parte e perigoso. Pelo menos para a nossa saúde. Gostava de saber mais, se quiseres claro. Até de repente!

(roubei-te a deixa)

su disse...

madalena, ainda bem que que não ficaste aborrecida comigo :) quanto ao outro assunto, acredito que devas dar a resposta o quanto antes. Alguém muito querido disse um dia: "não se pode mudar o passado, mas podemos recomeçar e escrever um novo futuro". está nas tuas mãos, querida. ser feliz e retribuir a felicidade por quem te rodeia. Um beijinho grande :)

catarina, também já ajudei a cuidar de idosos. são uma lição de vida, cada um deles... e é tão triste ver como são negligenciados pela sociedade. um beijinho grande para ti e para os teus bebés grandes...

johnny, é verdade... os jovens são obrigados a escolher uma profissão para a vida, cedo demais. um beijinho...

rogério, já fui espreitar e fiquei curiosa. fico ansiosa pelo próximo! abraçinho...

encantadora de abelha, obrigada pela visita :) tudo o que disseste, assim é. infelizmente para todos nós que, de uma maneira ou de outra, sofremos as consequências... bjinho para ti tb :)

é isso, sandra! ainda não fui espreitar, mas irei. prometo!

matador... sábias palavras e tudo dito. que ml que ficamos na fotografia, não é? abraçinho e obrigada pela visita...

mafaldinha, sempre a refilar... mas, desta vez, vejo-me obrigada a dizer-te que sim: tens razão. às favas, para todos eles. tu, que ainda andas por lá. quanto a mim... águas passadas. ah, fui convidada para um jantar de turma. "sem comentários"

ritinha, infelizmente, é a mentalidade deste país. continuação de bons estudos! e um xoxo para ti tb!

Tite disse...

Foi a minha 1ª visita mas gostei do que li e da mensagem para a amiga e não só.

há uns 20 anos atrás tive que passar uma situação em que constatava que os filhos não estavam suficientemente incentivados para se licensiarem como muitoi gostaríamos (eu e o pai). Porém, alguém me animou dizendo que eles não iriam ser Eng's ou Dr's. mas iriam ser fantásticos nas profissões que iriam escolher. Foi só o que eu quis ouvir. O que é importante é que os filhos sejam felizes e se sintam bem a fazer o que gostam e sabem.

Hoje, apesar de tantas vicissitudes provocadas pela crise, continuam empregados e felizes.

Adorei entrar na tua casinha.
Vou voltar.

su disse...

leopoldo, que saudades! férias muuuiiito prolongadas :) só lhe fez bem, acredito. concordo com as suas palavras. ainda há pouco tempo, tive um problema no fogão e o técnico comentou comigo que ninguém queria aprender e que estava difícil atender a tantos pedidos... o que fazer, não é? abraçinho muito feliz por tê-lo de volta!

lady lisa, estás certa sim. sem qualquer dúvida. um beijinho...

ai, mafalda... não tens emenda :| que mau feitio!!!

pedro, aqui fica o meu mail: diariodebordo@live.com.pt
espero contacto :)

tite, obrigada pela visita... adorei o seu cantinho. avó babada :) que bom saber que gostou. será sempre bem-vinda! Um beijinho :)

dandelion disse...

Se todos seguíssemos os nossos sonhos sem nos preocuparmos com as aparências a vida podia ser muito mais fácil. Gostei muito. Um beijo.

anita disse...

Que mudança! Acho que eu não tenho essa coragem de mudar assim tudo. Acho que me vou ficar por aqui mesmo.

Mané disse...

Quando acho que não me vais conseguir surpreender-me mais sais-te com um post destes! AH! Mulher!

Paula Marques disse...

De cavalo para burro? A sério? Há pessoas que não têm noção, sinceramente. Só para que conste, segundo essas pessoas, sou burra!

luisa disse...

Certeiro este texto. Corajosa opção de vida. Transparente o pensamento. Parabéns! Mas.. ó... não acho que chef de cozinha seja assim tão pouco considerado. pelo contrário, acho que está cada vez mais "na moda". E já agora também muitas outras profissões vão voltar a estar na moda, até porque são daquelas que "resultam". Já viram, por exemplo, quantas lojas de arranjos de costura têm surgido por aí?

Anónimo disse...

lindo *-*

Atena disse...

Aparências... é disso que se vive cada vez mais. Nem sequer é preciso ser, ou parecer - basta dizer que se é! A ignorancia é tanta que segue atrás destes nadas! Por isso a evolução da humanidade faz-se de recuos, de crises, de corrupção, de hipocrisia, de vazios, ôcos. Estudar, deveria até ser obrigatório, porque o aprender é vital, mas não é num titulo que designa a pessoa, o seu carácter! Não é num título que se encontra O HOMEM...

Amélia disse...

Entrei no link que deixaste para os Traquinas e adorei o trabalho que fizeste com eles! É fenomenal!!! Tens mesmo jeitinho para os miúdos é incrível!

Sarita disse...

Mas admite que adoraste marrar todos aqueles anos! Tu és e sempre foste uma marrona! Ainda hoje estudas o calhamaço de anatomia que eu bem sei!!!

just me, an ordinary girl disse...

so posso dizer que assino por baixo deste post!!

desde que penso por mnha propria cabeça e reflicto sobre estes assuntos que defendo que trabalho é trabalho!!

em minha opiniao nao ha trabalhos mais ou menos dignificantes, aliás essa questao nem se coloca

se nós acordassemos de manha e vissemos nossas ruas cheias de lixo, e atrás do lixo vinham as moscas os ratos as ratazanas as cobras... e a seguir o nosso desconforto e as nossas doenças..
nesse dia dariamos valor ao trabalho que as pessoas que nos limpam as ruas , fazem!

se de manha nao tivessemos o pao frsquinho, os bolos os croissants... pensariamos de outra maneira acerca dos padeiros

e por ai afora....

da~se mais valor a quem estuda mais?
errado
quem nao estudou ate aos 25 ou 30 anos, esteve provavelmente a trabalhar esse tempo todo!!!
trabalhar=produzir

penso que nao deveriamos diferenciar , nem a nivel salarial,nenhum tipo de trabalho!
concordo que ganhe mais dinheiro apenas quem faz o trabalho mais bem feito
vivemos numa sociedade complexa, as necessidades sao inumeras, todos precisamos de medicos professores escriturarios padeiros cozinheiros blablabla
é a minha opiniao..

olha, susana, nao estou melhor, a perna estará engessada mais umas 3 ou 4 semanas e sinto o pé bastante inchado e dorido, mas trabalho numa loja e irei para lá, de muletas...

um beijo muito grande para ti, e muito muito obrigada por tuas palavras sempre gentis simpaticas e carinhosas e pelos teus comentarios expontaneos e inteligentes! és uma querida!!

Insana disse...

è como mentir para si mesma,

bjs
Insana

Catsone disse...

Conheço pessoas que exigem "Dr" nos cartões de crédito! Se me fizessem isso tirava a conta do banco: meus pais deram um nome e dr não está na minha certidão de nascimento!

Poetic Girl disse...

Adorei a transparência do texto, senti-me emocionada até e fiquei mesmo feliz por saber que estás a fazer o que gostas. E isso querida vale por dez ou vinte canudos... quandos dos licenciados realmente trabalham no que gostam? Que sabem eles aos 18? Têm maturidade para escolher a profissão que os vai guiar pelo resto da vida? não não têm. Digo-te porque eu adieiei uma licenciatura até aos 35 porque agora sim sei que no que gostaria de trabalhar e fazer! Temos que aprender com as portas que vamos abrindo na vida! bjs

Fê blue bird disse...

Minha querida:
Tive a felicidade de ouvir vindo de si, parte deste seu emotivo texto, ele só revela o quanto a amiga lutou e luta para ser aceite, e para que respeitem as suas escolhas.
Eu não vou negar que tenho orgulho em ter os meus filhos licenciados, mas o meu principal objectivo é vê-los felizes, quer seja na área que se licenciaram ou noutra qualquer que os realize.
Eu também quando escolhi ser mãe e dona de casa a tempo inteiro, fui descriminada por muita gente, que dizia que eu não fazia nada e vivia à conta do marido.
Não é fácil ir contra as regras da aparência, não é fácil ser transparente nas escolhas que fazemos, exigimos somente que respeitem a nossa escolha de vida.
Sabe que a amiga é uma irmã para mim, vê-la feliz, saber que é feliz, é tudo o que importa.

Beijinhos muitos e felicidades para a Madalena.

Lala disse...

Brincar. Sorrir. Cantar. Os verbos que conjugas... com as tuas crianças... haverá algo mais transparente?
Adorei!E admiro a tua coragem e a tua força. Às vezes tudo o que precisamos é de mudar (é um excelente verbo!)! Nem que seja a cadeira do quarto para a sala! ;)
Beijinho**

Brown Eyes disse...

Tudo o que dizes Suzana, tudo o que disse a Madalena é verdade infelizmente. Mas há ainda um pormenor importante no acto de receber e trabalhar: as cunhas. Pois é. Eu adorava estudar,desde pequena que tinha um fascinio pelos estudos. Os meus pais nunca ligaram a nada mas isso não me travou. Logo que comecei a trabalhar fiz o 12º. ano à noite. Fiz a tal prova para entrar no ensino superior e chegou a hora de optar pelo curso. Aí havia um problema, tinha uma familia, um filho, vivia numa cidade onde não havia o curso dos meus sonhos: Direito mas eu não queria parar de estudar. Licenciei-me em Secretariado de Assessoria e Direcção. Já estava na Função pública como Administrativa e ia concorrendo para subir. Concorri a um lugar de técnica que exigia licenciatura mas tive o azar de concorrer com a Secretário do Presidente da Cãmara, o lugar tinha sido aberto para ela. Bem arranjei um problema porque mesmo depois de terem andado a sondar-me, a oferecerem-me jantares, que não aceitei, para eu me calar, eu tinha tido a melhor prova mas era a secretária do presidente que queriam lá colocar, eu que sei o que ando a fazer meti um processo em tribunal porque me tinham roubado o lugar. Ganhei o processo, eles tinham alterado pontuações e blá,blá mas, o tribunal obriga a anular o concurso, uma injustiça, e não obriga a admitir quem teve a melhor prova. Claro está que fiquei na mesma, a ganhar como administrativa, até hoje, já lá vão à volta de dez anos quando isto aconteceu. Hoje trabalho num sítio que detesto, tenho colegas trapaceiros, um trabalho nulo, que nada ensina, um chefe que sabe menos que eu e cá estou porque tenho 47 anos, idade que não permite dar um pontapé a isto e ir à procura do que gosto. Concursos públicos desisti, quando os abrem é para os afilhados. Resumindo corri atrás do meu sonho mas faltava-me e falta-me aquilo que não quero ter influências. Não basta ser licenciado é preciso deixar-se vender e quem não deixa está LIXADO nesta sociedade e sózinho, com as nossas capacidades, não vais a lado nenhum porque eles são capazes de tudoi, até de alterar provas e a lei está ao lado deles. Enfim...continuando a viver com os meus valores, dos quais não abdico. Beijinhos
desculpa o testamento mas...

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