terça-feira, 28 de dezembro de 2010

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Aparecem de mansinho, durante a noite, enquanto dormimos. São crianças com botinhas de lã que se passeiam pela casa por horas tardias e não querem acordar os seus pais.

São pequeninas, pelo menos no início. Ouvi dizer que algumas já nascem em nós, mas eu não acredito. Acho que vêm pela calada da noite, sorrateiramente, enfiam-se por debaixo dos lençóis e agarram-se a nós. E cá ficam. Pelo menos até as mandarmos embora.

Mas não depende só de nós. Dizem que elas crescem e que podem perder tamanho, consoante a quantidade de comida (importância) que lhes damos. São alimentadas por mim. E por ti. E por todos que comigo se cruzam.

Aparecem, agarram-se a nós. Por vezes, são alimentadas de tal maneira que perdemos o seu controlo e passamos a ser nós alimentados por elas. Chamam a isto: loucura, insanidade, perda de consciência. Dominam-nos.

Há aquelas que são boas. Há aquelas que são más. É preciso cuidado com a quantidade de comida (importância) que lhes damos.

Ouvi dizer que algumas morrem, e dão lugar a novas crianças, com o mesmo nome, com características semelhantes, mas diferentes. Mesmo aquelas que têm o mesmo nome são diferentes. Elas são sempre diferentes. Não há duas iguais. É, pura e simplesmente, impossível.

Variam consoante tudo. Tudo as transforma. São muito sensíveis, mais do que nós próprios, e mais do que aquilo que queremos que elas sejam. Captam tudo, sem que nos apercebamos, só para mais tarde nos lembrarem (qual dor, ou alegria!). Já deixei algumas morrer. Algumas felizmente. Outras infelizmente. Mas com tudo é assim. Nada permanece igual. Tudo muda. TUDO.

Elas ensinam coisas importantes. Manter o que deve ser mantido. Libertar o que deve ser libertado. E não fazer muitas perguntas. São crianças. Não sabem o que é o mundo. Limitam-se a guiar-nos. E, nós, estúpidos seres humanos sentimentalóides, deixamo-nos guiar, cegamente, por elas.

Ouvimos as suas vozes e sorrimos ou choramos, de uma maneira ou de outra, elas controlam-nos e, nós, estúpidos seres humanos sentimentalóides, deixamo-nos controlar. Paramos sempre para as ouvir. Elas manipulam-nos.

Eu paro e escuto. E o que escuto? Ah...risos! Gargalhadas de crianças (felizes!), e o vento que agita as folhas. Sim, ouço as folhas roçarem umas nas outras emitindo sons que se assemelham ao amachucar do papel. E deixo-as plantar (novamente). Foram elas. Só podem ter sido elas.

Durante a noite, pé ante pé, plantaram. E sussurram aos meus ouvidos palavras indecifráveis que me fazem sorrir. O que dizem elas? Não sei, e nem vou tentar descobrir. Mas, na imensidão de vozes que ouço consigo identificar uma frase. Constante. Uma e outra vez. E outra vez. E sorrio.

***

a marina escreve de uma forma que nos toca, bem lá no fundo da nossa alma. hoje sorri... e não resisti: "roubei-lhe" sorrateiramente este texto do seu blog unthought known e trouxe-lo para aqui.

7 comentários:

Laços e Rendas de Nós disse...

Que 2011 venha recheado de chocolate, enfeitado com estrelas e num prato dourado como o sol.

Beijo

chica disse...

Que texto maravilhoso!Fizeste bem em trazê-lo pra cá...beijos às duas,chica

Olga Mendes disse...

Um beijinho muito especial para ti. Adorei o texto e fez-me lembrar porque não deveria ter estado tanto tempo longe deste mundo. Mas existem momentos que não queremos ver escritos, embora as caminhadas que fazemos sozinhos sejam sempre mais complicadas. Desejo um 2011 repleto de "coisas" boas. Beijinhos.

Fê blue bird disse...

Minha amiga:
Que "caminho" lindo nos indicou hoje!
Um texto que encheu o meu coração de esperança e fé ( ando a precisar tanto disso)

Beijinhos muitos

Brown Eyes disse...

Há aqui tanto para ler, será que estive assim tanto tempo ausente?
Suzana vim desejar-te um 2011 com MUITA, MUITA saúde, amor e paz. Beijo Grande e as melhoras

Anónimo disse...

Pelo que li, infelizmente, encontra-se doente, desde já as minhas sinceras melhoras. Depois , não podia deixar de 'passar' por aqui e deixar-lhe o meu agradecimento por ter 'caminhado' pelo meu 'humilde espaço'. A tudo isto junto um enorme abraço e os votos singelos e sinceros de um ano novo cheio de coisas boas.
Feliz 2011. ;)

Mané disse...

Lindo :')

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