sábado, 11 de dezembro de 2010

{narradores de memória}

contam que uma menina de três anos, saia rodada e totós enrolados em fitas cor-de-rosa tinha um primo de oito meses. era um bebé frágil, com um ligeiro atraso no desenvolvimento motor devido a complicações no parto.

todas as manhãs, um ritual: depois do banho, a mãe deitava o bebé, antes de o vestir, num pequeno colchão na varanda, a apanhar banhinhos de sol.

numa manhã dessas, a menina de saia rodada e totós enrolados em fitas cor-de-rosa foi ao frigorífico e trouxe com ela, uma embalagem de margarina planta[nessa altura, ainda só existia essa margarina, lá na terra dos sonhos]. também foi buscar o seu balde de praia que estava cheio de areia[das obras que decorriam lá em casa].

depois de besuntar o priminho bem besuntado[contam que usou a embalagem toda!], entornou o balde de areia por cima dele e, porque a menina de saia rodada e totós enrolados em fitas cor-de-rosa acreditava[e ainda acredito] que se tiveres que fazer alguma coisa, fá-lo bem feito, se não... não faças, com as suas mãozinha pequeninas, calcou a areia para que ela aderisse bem à manteiga, assim, tipo croquete[só que humano].

tudo isto muito rápido porque a minha tia nunca deixava o meu primo sozinho, por muito tempo.

contam que a minha tia levou as mãos à cabeça e deu um grito, quando viu o meu primo. contam que ela levou horas para conseguir tirar toda aquela amálgama de areia e gordura do seu corpinho frágil de bébe com um ligeiro atraso no desenvolvimento motor devido a complicações no parto... contam que levou outras tantas horas atrás de mim, de chinelo na mão. se ela te tivesse apanhado, matava-te...

[mas, mãe... custa-me um pouco a acreditar que uma menina tão pequenina tivesse planeado tudo isso, assim, tão ao promenor. mas, olha que assim foi, ouviste?! e todos os mais velhos, lá na terra, já te contaram como foi. não sei porquê a dúvida, agora. então, está bem. devia ser fresca... devia... ah, eras... eras...]

e é verdade. lá, na terra dos sonhos, todos os mais velhos contam esta história. tenho pena que ninguém tivesse registado em vídeo ou mesmo em fotografia... isto da tradição oral é uma chatice porque são cada vez menos, os mais velhos...

[se a matilde nascesse, gostaria que fosse assim. como a mãe foi um dia... tão pequenina mas com uma excelente capacidade de planear e de concretizar... é que este país está mesmo a precisar de mulheres assim]

19 comentários:

Laços e Rendas de Nós disse...

Estórias inocentes, fruto de visualizações, por certo.

Quando eu era pequena, dizem os mais velhos que com três anos, pegava num lenço e num rolo da massa pequenito e, sobre um banco da cozinha, me punha da fazer rissóis. Fazia tudo o que via fazer, desde levantar a massa( lenço) até polvilhar com farinha invisível...

Beijo

Petit Joe disse...

Infância... coisas quem me custam recordar...

Eu, Meu Contrário e Minha Alma disse...

Eu nessa idade
Pedia à minha mãe um bibe
Queria ser a Amália fadista
e entrar numa revista

Quanto à sua memória
dá uma caricata e gira estória
É de louvar o final e quanto a mim
é de facto preciso mais mulheres assim

cc disse...

Tu fizeste o quê??? Fiquei parva!!! Que ideia mais rocambolesca para uma criança de 3 anos!!! E ainda querias ter uma filha assim? Isso é que é coragem lol

mafaldinha disse...

WTF??? Olha lá: esse não é o teu primo que se esqueceu que existias? E ainda te perguntas porquê???

(croquete humano LOL LOL LOL)

luisa disse...

Tenho ouvido contar muitas histórias de habilidades de crianças... mas esta realmente está o máximo! :))

Mané disse...

Que loucura :) lindo! Adorei! Mas eu também não sei o que te faria se eu fosse mãe do pequenote ;)

anita disse...

Os miúdos têm cada ideia! Só lhes dá para o mal! E a minha que já vai nos dois anos!!! Espero que não se lembre de fazer o mesmo com o irmão!!!

Johnny disse...

É uma maldade inocente.

dandelion disse...

Adoro todas as histórias que contas mas esta está demais!

Poetic Girl disse...

Ah a inocência, quando pensamos que ainda podemos mudar o mundo! bjs

Fê blue bird disse...

Querida amiga:
Já uma vez apresentámos as nossas meninas, elas gostaram logo uma da outra.Lembra-se?
Também a minha era traquinas, ou inocente eu acho, e também ela fazia coisas que mais ninguém compreendia.
Os contadores de histórias acrescentam sempre mais um ponto.
Como eu adorava tê-la conhecido, acho que lhe dava o meu beijinho especial ;-)
Adorei esta sua maravilhosa história.

Beijinhos

Joana disse...

As crianças estão sempre a surpreender-nos. Esta história é hilariante!

Thê disse...

De todas as histórias que ouvi até hoje, esta supera por tudo: criatividade, capacidade de planeamento e execução rápida mas perfeita! Excelente! Tenho pena é do pobre priminho :)

Pedro disse...

Bem! Devias ser boa de aturar!!! E a minha que deve estar para nascer! Até tenho medo do que vem por aí! Dizem que eles agora vêm mil vezes piores :)

Fernando Freitas disse...

Na terra dos sonhos tudo é possível. Por lá também existiu um menino que, com um pouco de massa de tomate, ia provocando um ataque cardíaco a um tio. Andei fugido dele uns tempos...

Lisa disse...

Contas aqui cada episódio da tua vida que mais parece tirado de um filme neste caso de terror, pelo menos para o miúdo lol

Amélia disse...

Tenho cá para mim que eras uma menina muuiiito bem comportada. Estou certa?

Bjos!

Madalena disse...

Olha! Acho que estavas para seguir oe meus passos! Também querias ser chef de cozinha?

lol lol lol

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